Saturday, February 26, 2011

Números e Letras

O cano da arma fervia em direção ao rapaz. E ele entregou o cordão, a carteira e o celular. O Punho girou a arma em direção ao outro homem, que lhe entregou o telefone, a câmera e a carteira. Eu estava parada. As mãos para o alto, esperando o tiro, fosse ele para quem fosse. Ou para todos nós. Eu esperava e assistia novela, como se nada, nunca, fosse acontecer comigo, mas a arma se voltou para mim.

_ Passa o celular. – Eu mexi nos bolsos de trás, esperando encontrar a chave de casa e alguns trocados. Não, eu não havia deixado o telefone na mesa do bar.

_Cara, só tenho a chave de casa. – Mostrei o chaveiro, com a alma tremendo. O medo absurdo de descobrirem o celular no meu outro bolso, mas o rapaz apenas voltou para o banco do carona do carro, que partiu.

E eu tentei me esconder no esgoto de mim mesma; Me teletransportar, mas não deu.  E eu voltei pro bar, pra tomar uma cerveja, fumar um cigarro ou procurar conforto em quem eu sabia que poderia me dar. Tanto faz.

Tremi, tremi e tremi um pouco mais.

Só não entendo se foi a necessidade de ser malandra e “inassaltável” ou um impulso suicida que me fez mentir. Não existe opção que seja o plano, mesmo que se planeje uma possível morte.

Números e letras. Agenda. E alguns “dinheiros” convertidos em créditos. No fim das contas, era isso: Trocaria a minha vida por números e letras.

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