Wednesday, March 23, 2011

Dicknail

Vômito é poesia? Lágrimas que transformam o universo num borrão. Você se sufoca num mix de sensações pelas quais jamais deveria ter passado. E guarda segredo. Porque, no fim das contas, ninguém quer ser um brinquedo quebrado. Então colamos os cacos da bonequinha de porcelana, a repintamos, trocamos a sua roupa. E fica tudo lindo, não? Ninguém desconfia do quão fodido você sempre esteve.

Depressão é poesia? Não saber levantar da cama, não conseguir se olhar no espelho. Ter nojo de si mesma. Pensar no quão vil alguém te tornou. E é como se você não tivesse sentimentos, você se torna menos humana. E você reza para que ninguém nunca ache os remendos do seu ser, porque dói demais falar. E, ao mesmo tempo em que, você quer que as lembranças morram, algo em si diz que, no momento em que você achar que nada aconteceu, você estará vulnerável para que aconteça outra vez.

Paranóia é poesia? Pensar que a culpa é sua: Foi aquela roupa? Ou porque eu fumo e bebo? Porque eu falo palavrão? Ou porque eu disse não e ninguém gosta de um não como resposta? E tocam o mundo que arde e você se sente rato de laboratório: exames, exames, exames. Os meses passam e você ainda tem que fazer exames. E reza, mesmo tendo perdido a fé em Deus, para não estar carregando cacos de porcelana no ventre. Pra você não ter que fazer a escolha de tentar amar o que te fez esquecer como se ama.

Aberrações são poesia? Porque é nisso que nos transformam: a bonequinha Frankstéin. Todas as cicatrizes e remendos zombam de nós. Todo santo dia. E você tenta não culpar ninguém para não ser uma vítima eterna. Mas como se entrega a alma se, dela, só existem pedaços?

 

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