Sunday, April 15, 2012

Letter to God

É tão estranho habitar o mundo. Ter palavras que escapolem da boca numa tempestade torrencial. E possuir estes olhos que enxergam o invisível. Maldita seja esta dádiva de ver o que não existe a olho nu.

Nua era eu e não como estava. Despida de sanidade e sentimentos; mergulhada em mares de álcool e libido. Eu gostaria de ter entendido antes todo o perigo que tragava com o fumo que entorpecia o torpe. Gostaria de ter aprendido cedo como se pronuncia o não.

Tantos anos renegando o que, em mim, era bom; vivendo e revivendo máculas; cavando derrotas com as próprias mãos. Havia sangue em meus dedos e ainda assim, violava a terra desesperadamente. Como ninguém nunca me disse que eu cavava a própria tumba?

Abandonava o mundo com os acordes abafados de minha guitarra; com os meus gritos roucos. Cantava odes depressivas a esta prisão enfeitada de flores; aos goles que me faziam fantasiar a vida em uma liberdade inexistente.

E eu nunca acreditei nos contos de fada que me contaram a seu respeito, mas me sinto Jó, testada em minha fé por uma aposta que fizeste com o diabo; e me sinto só. Então, lembro-me das bruxas, queimando os pecados, ainda vivas, na fogueira, para viverem destino eterno semelhante nas chamas do inferno. Seria este, também, o meu?

Eu não te imploro por luz, sucesso ou salvação. Nenhum dos meus pedidos nunca foi atendido; não fui merecedora de teus favores nem quando ainda feto. Talvez fosse o certo e eu já fosse impura enquanto nadava em líquido amniótico. Talvez seu heroísmo, amor e bondade sejam superestimados. 

Esta não é uma carta mendicante ou de oferta. Esta não é uma carta de agradecimento. Esta não é uma tentativa de alcançar respostas. Mesmo porque esta que lhe escreve nunca soube o que era deus. E, esta que eu vivo, nunca pôde ser realmente chamada de vida.



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